30 agosto 2005

PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES


As práticas e as representações dos seres humanos, as relações sociais, são constitutivamente, também, materiais, corporais, naturais. O fato de matéria, corpo, natureza serem referidos discursivamente, politicamente, economicamente, socialmente, culturalmente, não os reduzem a discurso, política, economia, cultura.
Contudo, o secular distanciamento entre citadinos e a cadeia produtiva do que ingerem e do que expelem cotidianamente, manifesta-se às vezes como existência imaterial, pura representação. Diante dessa questão, venho discutir aqui um detalhe dela, o de que, hoje como antes, nenhum ser vivo consegue viver sem água.
Segundo Rebouças (1993, p.01), o termo água refere-se, regra geral, ao elemento natural em si mesmo, desvinculado de qualquer uso ou utilização. Constituindo a substância mais abundante na Terra, o estoque natural de água existente no Planeta tem mantido constantes as suas características quantitativas e qualitativas nos últimos 20.000 anos. Seria impossível viver sem a água. É um bem renovável, mas não deixa de ser limitado. A água forma a maior parte do volume de uma célula e representa no ser humano cerca de 70% de seu peso.
Importante testemunho dos corpos, a água passa pelos esgotos após prestar os mais humildes serviços, assumindo as formas dos diferentes recipientes que a acolhe e serve ao corpo nos seus mais íntimos gestos, num constante encontro e desencontro, universalizando os seus diferentes usos. Para Denise Bernuzzi Sant Anna (2002, p. 99), “a água é um elemento flexível que passa pelos esgotos aceitando o que o homem abomina, corre alto ou baixo e serve a uma imensidão de propósitos”.
Como os nossos corpos são 70% água, expressam “elos entre a água e o corpo humano”.
(...) toda a entrada e toda a saída de materiais no nosso organismo é efetuada com auxílio da água. (...) Quantidades ainda maiores são consumidas em benefício da manutenção de nossa temperatura corporal (BRANCO, 2002, p.100).
As formas materiais e simbólicas de relação dos corpos humanos com a água potável em ambientes urbanos não deveriam estar fora do campo de observação dos estudos históricos. Pois ela não está fora das práticas e das representações políticas, econômicas, sociais, culturais, que têm sido enfatizadas pelos historiadores.
Essa é a questão central neste trabalho. A água potável urbana como um aspecto dessa questão maior, que tomo aqui como referencial. Essa questão tem estado praticamente invisível em bom número dos estudos históricos, como se os múltiplos agentes não necessitassem dela, vivenciassem uma história desidratada.
É como se:
(...) as águas do passado, ao ganharem à escuridão do mundo subterrâneo dos canos, ao receberem novos processos de filtragem, ou ao desaparecerem da visão e do contato permanente com os espaços públicos da cidade, tivessem levado com elas, igualmente, as memórias (...), as histórias dos corpos (...) e as sensibilidades que elas ajudaram a construir (BRANCO, 2002, p.100).
Mas, seja como for, mesmo com o aumento da produção do conhecimento histórico no Brasil, sobre os ambientes urbanos nas últimas décadas, se se procura pelas águas urbanas acaba com a sensação ainda recorrente de que essa é “uma história ainda pouco conhecida” (SANT’ANNA, 1999, p. 297).

Neila Barreto

3 comentários:

Anônimo disse...

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