18 setembro 2007

Cuiabá ganha novo espaço cultural

Patrimônio Histórico

Com programação variada a inauguração do Museu do Morro da Caixa d"Água Velha terá shows e lançamento de livro

Raquel Ferreira Da Redação- Jornal A Gazeta

Curiosidade e muita pesquisa foram os ingredientes que levaram Neila Maria Souza Barreto a voltar no tempo e descobrir a história do abastecimento de água em Cuiabá. O estudo da jornalista, que foi tese do mestrado em História em 2005 na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), transformou-se no livro Água de Beber no Espaço Urbano de Cuiabá (1790 -1886) e será lançado hoje na inauguração do Museu do Morro da Caixa d"Água Velha, cuja proposta também é fruto do trabalho de pós-graduação.

Atuando na Sanecap desde 1973, Neila conta que sempre teve a curiosidade em saber como a população cuiabana se abastecia de água potável no século 18. O questionamento virou objeto de pesquisa durante três anos. Para restringir o estudo, a pesquisadora abordou a questão da água para beber. "Sempre trabalhei com água e tinha interesse em saber como funcionava esse abastecimento no passado".

Ela comenta que hoje temos os encanamentos e torneiras que são comuns em qualquer residência, porém as coisas não eram bem assim em tempos passados e o fornecimento de água era feito por meio de fontes, bicas e chafarizes.

Embora a forma como o recurso chega às casas seja bastante diferente com o passar do tempo, Neila destaca que os anseios e reclamações da população sempre foram os mesmos. "A história se repete. Enquanto pesquisava notei que estava tudo muito atual, sempre as mesmas reclamações de falta de água e a pressão da população".

O primeiro documento encontrado por Neila para iniciar a pesquisa data de 1790. O papel é referente a inauguração do chafariz do Rosário, que não existe mais assim como várias bicas, aquedutos, chafarizes e fontes que foram usados pela população cuiabana para o abastecimento.
Entre datas e papéis Neila encontrou um documento do fim de 1880, quando o governo de Mato Grosso publicou em jornal de circulação nacional nota de chamada a "concorrentes para o abastecimento d"água à capital da Província", que tinha o significado de um edital para a exploração de água no Estado. Em maio do ano seguinte o governo assinou contrato com os empresários João Frick e Carlos Zanotta.

O sistema público de abastecimento de água potável foi inaugurado em 30 de novembro de 1882 pelo Presidente da Província José Maria de Alencastro. Na época, somente um terço da população da cidade foi beneficiada. Assim surgiu o primeiro reservatório de água de Mato Grosso - localizado na rua Comandante Costa esquina com a rua Nossa Senhora de Santana - onde hoje se encontra o Morro da Caixa d"Água Velha.

O reservatório subterrâneo tinha capacidade para armazenar um milhão de litros de água vinda do rio Cuiabá pela hidráulica do Porto, que era movida por máquinas a vapor e abastecia a população cuiabana de água potável por gravidade. A estrutura conta com três vãos de 13 metros de largura, cada um com 45 metros de comprimento e cuja arquitetura lembra os arcos da Lapa, no Rio de Janeiro.

Outros costumes e curiosidades referentes ao recurso natural também são tratados no livro, que traz ainda um quadro com os nomes de ruas que foram alterados no decorrer do tempo. Para compor e desenvolver a pesquisa, Neila recorreu a diversos documentos disponíveis nos arquivos da Assembléia Legislativa, Instituto de História, UFMT e Arquivo Público de Mato Grosso, além de analisar inventários de personalidades do passado e posturas municipais.

Preservação -
Neila conta que, além da restauração do Morro da Caixa d"Água Velha, que traz galerias incríveis, o trabalho de mestrado motivou na revitalização do Memorial das Águas (localizado na nas avenidas Presidente Marques e São Sebastião) e no Parque das Águas ou Parque Dante de Oliveira.

Com a inauguração do Museu do Morro da Caixa d"Água Velha a população terá a oportunidade de conhecer a arquitetura do espaço, além de poder usá-lo como um local de entretenimento, cultura e ampliação dos conhecimentos. O projeto e trabalho de restauração foram realizados pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano (IPDU). A obra leva ainda a assinatura do arquiteto Jaime Lerner. O projeto prevê a utilização do reservatório de água como espaço para exposições e eventos. Além disso seu entorno e parte superior foram transformados em área de estar.

Solenidade -
O Museu será inaugurado hoje às 17h, na rua Comandante Costa esquina com a rua Nossa Senhora Santana. Na programação, apresentações de Abel Santos, dedilhando a viola-de-cocho, e Vera Capillé evocando o Hino de Cuiabá. Na seqüência, Madrigal Cuiabá, sob a regência de Carlos Taubaté; o Quarteto de Cordas Rio Acima e o Bloco de Carnaval Beleza Pura, cujo ensaios eram feitos no local. Registros Históricos do Morro da Caixa D"Água e quadros do acervo de Matiko Kuramoti ficarão em exposição. No mesmo horário e local, Neila lançará o livro Água de Beber no Espaço Urbano de Cuiabá (1790 -1886).

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